Sinopse
«Álvaro Mutis subiu, a passos largos, os sete pisos da minha casa com um pacote de livros, separou do monte o mais pequeno e curto e disse-me, morto de riso:
- Leia isto, carago, para que aprenda!
Era Pedro Páramo.
Nessa noite não consegui adormecer enquanto não terminei a segunda leitura. Nunca, desde a noite tremenda em que li A Metamorfose, de Kafka, numa lúgubre pensão para estudantes em Bogotá - quase dez anos antes -, eu sofrera semelhante comoção (...).
Não são muito mais de 300 páginas, mas são quase tantas, e creio que tão perduráveis, como aquelas que conhecemos de Sófocles.»
Do texto introdutório de Gabriel García Márquez, Prémio Nobel de Literatura
A obra de Juan Rulfo influenciou de forma decisiva autores distinguidos com o Prémio Nobel de Literatura, como Gabriel García Márquez e Octávio Paz.
Opinião
Aqui confesso a minha ignorância, pois nunca tinha ouvido falar deste Pedro Páramo nem tão pouco do seu autor, Juan Rulfo, até ao momento em que vi o vídeo da Tatiana Feltrin e fiquei fascinada com as palavras dela sobre esta obra. Tanto que não resisti e comprei, assim que pude, um exemplar para mim. Agora que terminei a leitura, compreendo perfeitamente o que se diz deste livro. Único, especial, que nos transporta para outra dimensão.
Comecei este livro ainda em 2021, mas só o terminei em 2022, o que foi uma sorte porque estamos perante um sério candidato a constar nas melhores leituras deste novo ano. Estamos perante uma obra totalmente fora da caixa, que nos desconcerta e confunde ao longo da leitura. Aliás, a minha primeira vontade no final da leitura foi de recomeçar tudo de novo e tenho a absoluta certeza de que voltarei a ler este livro.
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Tudo começa quando o nosso protagonista perde a mãe e sai em busca do seu pai, numa terra distante, de onde a mãe tinha saído, muitos anos antes. Juan Preciado decide partir nessa viagem por ter sido esse o último desejo da sua mãe no seu leito de morte. É uma viagem longa, pois estamos a falar de uma cidade abandonada e longínqua, que parece ser um lugar escaldante à medida que este se aproxima. Como se estivesse a entrar no Inferno, o que parece ser premonitório sobre o que irá encontrar nesse lugar misterioso.
"Lembro-me de que o trouxeram recém-nascido, parece-me que foi ontem; mas é tão violento e vive tão depressa que às vezes me parece que anda a correr contra o tempo. Acabará por perder, vai ver."
Nessa jornada em busca do pai, encontra um homem que conhece o seu destino e se oferece para o ajudar a encontrar Comala e que, depois de alguma conversa, descobre ser seu irmão, pois também ele é filho de Pedro Páramo. Aliás, descobre que o seu pai está morto, que a cidade para onde se dirige se encontra abandonada e que o seu pai deixou uma série de bastardos por aquelas paragens ao longo dos anos em que foi o dono e senhor daquela região.
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Apesar de saber que se dirige para um lugar abandonado, decide ainda assim continuar a viagem e visitar o lugar sobre o qual a sua mãe falava e contava como se de um paraíso na terra se tratasse. Ao chegar lá, descobre uma mulher que o recebe na sua casa, dizendo que tinha sido avisada da sua chegada pela sua mãe. Com espanto, Juan conta que a sua mãe morreu há algum tempo e que seria impossível ter avisado. A mulher recebe a notícia com espanto, mas recebe o visitante em sua casa e começa por contar algumas histórias sobre o passado daquela terra.
"Estou aqui, de boca para cima, pensando nesse tempo para esquecer a minha solidão. Porque não estou deitada só por um bocadinho. E nem estou na cama da minha mãe, mas dentro de um caixão negro como o que se usa para enterrar os mortos. Porque estou morta."
Não te vou contar mais nada para não estragar o prazer da leitura e as surpresas que se sucedem ao longo de todo o livro. Só te digo que se trata de um livro repleto de fantasmas, onde a culpa é a grande protagonista, com múltiplas vozes ao longo das suas curtas páginas, contado de forma objectiva mas marcante. Um marco na Literatura mexicana, mas que moldou e influenciou escritores por todo o mundo. No entanto, se ainda precisas de mais razões para ler este livro ou se queres saber mais sobre ele, deves ver o vídeo da Literatura Fundamental.
Infelizmente, estamos perante um autor que escreveu muito pouco ao longo da vida, o que é uma pena pois estamos perante um gigante da Literatura. Planeio reler este livro, bem como pegar nos seus contos que têm fama de ser igualmente brilhantes. Agora conta-me nos comentários: já leste alguma coisa de Juan Rulfo? O que achas desta história desconcertante?
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