Sinopse
Numa das cenas mais marcantes de Agnes Grey, a protagonita vê-se forçada a matar um bando de pássaros para salvá-los da tortura às mãos de um rapaz. Este é apenas um dos episódios que Anne Brontë extraiu da sua vida real para escrever o seu primeiro romance.
Considerado um romance de aprendizagem, ou de iniciação, Agnes Grey acompanha o percurso da protagonista homónima, filha de um clérigo de poucos recursos, que aceita trabalhar como perceptora das crianças de duas abastadas famílias burguesas. Agnes vê-se obrigada a lutar para manter a força e a integridade num mundo em que o dinheiro e o poder se sobrepõem aos valores morais. No entanto, a jovem não consegue enfrentar os subterfúgios burgueses, e são muitos os críticos que assinalam a incapacidade da protagonista do romance de Anne Brontë para encontrar um caminho pessoal que a conduza ao crescimento interior e à virtude. Este romance de aprendizagem é por isso considerado bastante invulgar.
Agnes Grey foi publicado pela primeira vez em 1847, sob o pseudónimo masculino de Aeton Bell.
Opinião
Na minha saga pessoal que tem como objectivo ler todos os clássicos que me faltam ler, decidi agarrar no livro de Anne Brontë que tinha na estante na lista de espera. Trata-se de Agnes Grey, um romance com menos de trezentas páginas, que acompanha a protagonista que dá o nome à obra. O talento das irmãs Brontë é um caso sério da Literatura, sobretudo quando pensamos que estamos a falar de meninas que pouco saíram da bolha do seu núcleo familiar mais restrito.
Do que li sobre a autora, este não é o seu livro mais famoso, e talvez seja essa a razão para não me ter impactado tanto quanto estava à espera. No entanto, não penses que o livro é mau. Muito pelo contrário. É extremamente bem escrito, com um ritmo fluído, com algumas notas de ironia muito subtis, e que é agradável de acompanhar. Portanto, foi uma excelente primeira impressão do trabalho de Anne e que alimentou a minha vontade de ler mais do que escreveu.
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Voltando ao livro propriamente dito, a vida de Agnes é retratada numa seio familiar com muito amor mas onde o dinheiro não abunda. Agnes é a filha mais nova e, apesar de ser muito mimada por todos, tem em si uma vontade muito grande de independência e de provar que é capaz de sair do ninho, viver longe dos seus e prover-se a si própria e até ajudar a família financeiramente. É desse desejo que nasce o seu plano de se tornar preceptora de crianças numa casa de família.
"Comecei este livro com a intenção de não ocultar coisa alguma. Que aqueles a quem isto possa interessar colham ao menos o benefício de perscrutar um coração humano. Contudo há por vezes pensamentos que só os anjos poderiam contemplar e nunca os homens, nossos irmãos, mesmo os melhores, os mais bondosos."
Com a ajuda da mãe, consegue uma colocação numa cidade relativamente perto e, mesmo com o medo e saudade já presente, leva a sua decisão até ao fim e parte para esse novo trabalho que será o seu primeiro. O relato desta primeira experiência é de revolver as entranhas, pois somos apresentados a crianças insuportáveis, com verdadeiros maus instintos e cujos pais não mexem uma palha para os educar ou procurar que sejam melhores pessoas.
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No entanto, apesar desta falta de interesse, vontade ou disponibilidade de educar os filhos, vivem na convicção de que a perceptora será capaz de operar essa mudança, mesmo que não lhe seja dada nenhuma autoridade real para exercer sobre estas crianças. Depois de algum tempo, esta experiência chega ao fim e Agnes volta para casa para junto da família. Contudo, pretende voltar a trabalhar e logo pede à sua mãe que encontre outro lugar onde ela possa prestar o seu serviço, ciente de que aprendeu com a primeira experiência e que será melhor no futuro.
"Sem dúvida nenhuma a beleza é um dom divino, que se não pode desprezar. Por isso, aqueles que possuem a beleza devem fazer dela bom uso, e os menos favorecidos devem consolar-se e passar sem ela o melhor que lhes seja possível."
É nesta fase que a trama começa a ficar bem mais interessante e é nesta casa, com crianças novas, que o seu destino começa a ser traçado. Pela parte que me toca, ficou claro o caminho para onde seguia o enredo, e foi divertido na mesma ler e confirmar que estava certa. Este pode ser considerado um típico livro de YA, mas com uma qualidade acima da média. Fica mais uma vez confirmada o talento das irmãs Brontë e agora quero muito ler o livro da irmã que me falta - Jane Eyre - e o mais famoso de Anne - A Inquilina de Wildfell Hall.
O que leste das irmãs mais talentosas e famosas da Literatura inglesa? Qual o teu favorito? Já leste Agnes Grey?
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