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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

#Livros - A Jangada de Pedra, de José Saramago


#Livros - A Jangada de Pedra, de José Saramago

Sinopse

Em A Jangada de Pedra (...) o escritor recorre a um estratagema típico. Uma série de acontecimentos sobrenaturais culmina na separação da Península Ibérica que começa a vogar no Atlântico, inicialmente em direcção aos Açores. A situação criada por Saramago dá-lhe um sem-número de oportunidades para, no seu estilo muito pessoal, tecer comentários sobre as grandezas e pequenezas da vida, ironizar sobre as autoridades e os políticos e, talvez muito especialmente, com os actores dos jogos de poder na alta política. O engenho de Saramago está ao serviço da sabedoria. 

Opinião

E para provar que sou uma mulher que cumpre os seus propósitos, venho apresentar o mais recente livro de José Saramago que acabei de ler. Foi em Junho que referi pela primeira vez a a minha vontade de ler mais livros do nosso Nobel e onde admiti que apenas tinha lido o premiado Memorial do Convento, livro que também deixei como sugestão de leitura aqui, deixando também registado o meu desejo de reler o livro, dado que o li pela primeira vez ainda na adolescência.

A premissa de A Jangada de Pedra é incrível e completamente inesperada. A ideia de que a Península Ibérica se desprende do continente europeu e se coloca a navegar pelo Atlântico em direcção aos Açores parece ficção científica daquela pouco credível. Só que contada por Saramago transforma-se numa história crítica das sociedades e que retrata a forma como encaramos os acontecimentos que não podemos controlar ou alterar.

A parte mais incrível é pensarmos que este livro foi lançado em 1986 e tem uma actualidade alarmante. O autor retrata situações que parecem retiradas do que hoje vemos acontecer. Por exemplo, a Europa é assolada por manifestações onde se diz "Eu sou ibérico" como forma de se identificarem com a península que se afasta sem saber o seu destino. Parece-me impossível ler isto e não recordar as manifestações de "Je suis Charlie" e outras do mesmo género que aconteceram nos últimos anos.

Além da actualidade cultural, existe também muita crítica política. Os americanos a demonstrarem o seu apoio por acreditarem que poderiam tirar algum proveito da península que se dirigia ao seu encontro. A Europa até aliviada por deixar de ter a seu cargo dois países periféricos. Os políticos espanhóis e portugueses sem saberem como gerir este desastre e a unirem-se na comunicação transmitida às suas populações.

Temos ainda o amor que une as pessoas, de forma inesperada, em situações limite. Os laços que se criam quando se convive e partilham momentos difíceis. Mas o ponto fulcral da história são os fenómenos estranhos que acontecem e parecem determinar o rumo da península. Como se pessoas aleatórias tivessem ganho poderes estranhos que decidem, sem querer, o que acontece a esta jangada de pedra que navega sem saber o seu destino pelo Oceano Atlântico.

Parece-me de suma importância desmistificar a dificuldade que se diz existir em ler Saramago. É verdade que, quando comecei a leitura, demorei umas vinte ou trinta páginas a entrar no ritmo a absorver a forma diferente como escreve. Mas, assim que me habituei, a leitura torna-se fluída e perfeitamente compreensível. Não senti falta nenhuma de travessões, pontos de interrogação e coisas que tal. Os diálogos são ritmados e a narrativa até se torna mais interessante, com menos momentos mortos ou quebras na leitura.

Admito que é necessário estar atento e completamente embrenhado quando se lê Saramago. Não é algo que possa ser lido de forma leve e desprendida, de modo automático. Mas, talvez por isso mesmo, são livros que ficam connosco mesmo depois de terminar a leitura. Tornam-se parte integrantes de nós próprios e enriquecem-nos.

Pela parte que me toca, pretendo continuar a ler mais livros do nosso Nobel. Fica, assim, o compromisso de voltar a este autor em 2019. Parece-te bem? Que livro de José Saramago me aconselhas a ler em seguida? 

"Quantas vezes passaram por aqui peste e guerra, terramotos e incêndios, e sempre esta terra envolvente ressurgiu do pó e das cinzas, fazendo do amargo sofrimento doçura de viver, da tentação barbárica civilização, campo de golfe e piscina, iate na marina e descapotável no cais, o homem é a mais adaptável das criaturas, principalmente quando vai para melhor."

"(...) a morte é a suma razão de todas as coisas e sua infalível conclusão, a nós o que nos ilude é esta linha de vivos em que estamos, que avança para isso a que chamamos futuro só porque algum nome lhe havíamos de dar, colhendo dele incessantemente os novos seres, deixando para trás incessantemente os seres velhos a que tivemos de dar o nome de mortos para que não saiam do passado."

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6 comentários:

  1. Também achei a premissa deste livro incrível, muito envolvente! Lá pelo meio confesso que fiquei um pouco aborrecida com a narrativa e com as personagens, e é por isso que este nao é dos meus livros preferidos do Saramago. Os meus preferidos são "Ensaio sobre a Cegueira" e "Evangelho Segundo Jesus Cristo", por isso recomendo esses :D

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    1. Sim, compreendo a sensação. Por momentos também tive e é verdade que o início do livro começando com o clímax, fica difícil manter o ritmo.
      Engraçado, esses dois que sugeriste são os que mais quero ler! Vou ter de tratar disso em 2019! :D

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  2. Que tema interessante! Estará na minha lista de leitura! Beijinhos

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  3. Eu ainda não ganhei coragem de ler Saramago, mas já está na minha bucket list, agora é ganhar coragem e vontade, mas de momento com tanta coisa em fila de espera, terá de ser para tempos mais desafogados, mas virá o dia, assim o espero :)

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  4. No início custa a entrar no ritmo, mas depois entra-se no estilo e torna-se muito fácil. Quer-me parecer que vais gostar ;)

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