Sinopse
Entre 1915 e 1926, Virginia Woolf escreveu regularmente e em grande detalhe sobre os pequenos e grandes acontecimentos do seu dia a dia - marcado no panorama nacional e internacional pelos esforços da Primeira Guerra Mundial e mudanças políticas sísmicas, e na esfera privada por perdas, conflitos, momentos de grande criatividade e também de grande sofrimento, ensombrados pela doença mental.
Este diário, anotado e enriquecido com cartas e ensaios de Virginia Woolf, permite-nos conhecer de forma íntima e sem filtros os pensamentos de um dos maiores nomes da literatura, com rasgos líricos surpreendentes e passagens de uma inteligência acutilante.
Opinião
Diário 1915-1926 é uma obra que nos permite adentrar no mundo íntimo e profundo da famosa escritora Virginia Woolf, e que desejava muito ler, tanto que não resisti a comprar os dois volumes na Feira do Livro de Lisboa no ano passado. Neste livro, somos guiados pelas suas reflexões, angústias, alegrias e pensamentos mais íntimos ao longo de mais duma década da sua vida. Virginia Woolf, uma das mais importantes figuras do modernismo literário, presenteia-nos com a sua escrita sensível e perspicaz, que nos leva a questionar e a refletir sobre a vida, a arte e o papel da mulher na sociedade da época. Posso já adiantar que é impossível não nos encantarmos e emocionarmos com a genialidade e a profundidade dos escritos desta autora singular.
Este primeiro volume do Diário de Virginia Woolf cobre um período intenso e transformador na vida da autora e do mundo também. Durante esses anos, Woolf enfrentou desafios pessoais e profissionais, incluindo questões de saúde mental e o início da sua carreira literária. Este diário é uma janela para a mente genial e perturbada e o coração duma das escritoras mais influentes do século XX. Por outro lado, entre os anos de 1915 a 1926, o mundo estava a passar por profundas transformações sociais, políticas e culturais. A Primeira Guerra Mundial começou em 1914, levando a uma enorme perda de vidas, destruição e mudanças na paisagem política da Europa. Neste cenário de caos e incerteza, surgia a modernidade na literatura, com autores como James Joyce, T. S. Eliot e a própria Virginia Woolf, que procuravam novas formas de expressão e reflexão sobre a realidade fragmentada e complexa da época.
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Woolf, em particular, foi uma das principais vozes desta corrente literária, explorando temas como a subjetividade, a percepção do tempo e a condição da mulher na sociedade. Assim, o próprio Diário reflete não apenas a vida e pensamentos da autora, mas também os desafios e as inquietações de toda uma geração marcada por um profundo questionamento das tradições e valores estabelecidos. Por outro lado, nesta leitura conseguimos encontrar a voz singular de Virginia Woolf, além de ficar evidente a sua genialidade e a sensibilidade da sua escrita. O seu estilo é fluído e introspectivo, revelando uma profunda capacidade de observação sobre a vida quotidiana e as emoções humanas, através dos relatos sobre as pessoas do seu círculo próximo, que vão desde a família, aos amigos de longa data, até a autores tão famosos quanto ela.
"Parece-me cada vez mais claro que as únicas pessoas honestas são os artistas, e que estes reformadores sociais e estes filantropos se descontrolam tanto e nutrem tantos desejos infames sob a máscara do amor ao próximo que afinal há mais razões para os censurar a eles do que a nós."
A autora aborda diversos temas no seu diário, desde questões políticas e sociais até discussões sobre arte, literatura e feminismo. A sua escrita é marcada por uma linguagem poética e uma profunda introspecção, sem esquecer que por se tratar dum diário existem menos filtros, menos ponderação antes de escrever ideias e conclusões, resultando num pensamento em estado bruto. No fundo, estamos perante um verdadeiro tesouro literário, que nos permite entrar em contacto com a mente brilhante de Virginia Woolf e até vislumbrar o trabalho de construção de alguns dos seus livros mais famosos. As suas palavras são como um convite para mergulharmos nas suas complexidades emocionais e intelectuais, fazendo-nos questionar as nossas próprias crenças e valores. Vamos aqui encontrar reflexões sobre a natureza efémera da vida, a procura pela autenticidade e o papel da arte na expressão da alma humana, só para dar alguns exemplos.
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Ainda só li dois dos seus romances, mas em comparação consigo perceber uma perspectiva mais íntima e autobiográfica no Diário, permitindo ao leitor compreender não apenas a mente brilhante de Virginia, mas também as suas vulnerabilidades e inseguranças. Enquanto nos seus romances encontramos personagens complexos e tramas invulgares, no seu diário deparamo-nos com a autora na sua forma mais pura e transparente, entendendo o seu processo criativo, o seu método de trabalho, tomando consciência do tanto que leu ao longo da vida, entendendo a sua dinâmica familiar, bem como as relações com os diferentes amigos, mas também temos um vislumbre da fragilidade do seu corpo e, sobretudo, da sua mente, que com qualquer abalo parece colapsar, impedindo-a de fazer o que mais gosta, escrever. Esta obra, apesar de não entregar o texto integral, não deixa de ser extraordinário e inspirador, além de que nos permite compreender melhor uma das vozes mais influentes da literatura do século XX.
"Às vezes parece-me que nunca irei escrever todos os livros que tenho na cabeça, por causa do esforço. O que há de diabólico na escrita é que ela exige que cada nervo se mantenha retesado. Isto é exatamente o que não posso fazer..."
Portanto, tendo em consideração a experiência de leitura deste primeiro volume do Diário de Virginia Woolf, é possível constatar a profundidade psicológica e a sensibilidade com que a autora regista as suas reflexões mais íntimas e os seus conflitos emocionais ao longo dos anos. A escrita lírica e eloquente de Woolf permite-nos entrar na sua mente complexa e observar as suas angústias, as suas alegrias e as suas observações sagazes sobre a sociedade e a literatura da sua época. Esta é, sem dúvida alguma, uma obra que nos permite mergulhar na alma duma das mais brilhantes escritoras do século passado e no seu universo repleto de personagens famosos e temas universais. Será leitura obrigatória para todos os interessados na vida e obra de Virginia Woolf, mas também para entender melhor a época desassossegada em que viveu a vida adulta, e o impacto de grandes acontecimentos na arte e na vida quotidiana.
Agora, é a tua vez de me contares a tua experiência com esta autora que não reúne unanimidade. Já leste ou tens curiosidade para ler o Diário de Virginia Woolf? O que sentiste com o seu estilo e a sua escrita modernista? Que livros da autora mais tiveram impacto em ti? Conta-me tudo nos comentários abaixo!
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