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terça-feira, 19 de dezembro de 2023

#Livros - Florbela Apeles e Eu, de Vicente Alves do Ó

 

A foto da capa retrata a atriz Dalila Carmo, que interpretou a figura da protagonista Florbela Espanca no filme baseado no livro "Florbela Apeles e eu" de Vicente Alves do Ó. Com um olhar triste e pensativo, Dalila Carmo está envolta em um xaile florido, simbolizando a essência romântica e ao mesmo tempo delicada da escritora. Sua expressão facial transmite a melancolia presente na vida da própria Florbela, revelando sua profunda sensibilidade e intensidade emocional. A combinação do xaile florido com a expressão nostálgica de Dalila Carmo cria uma imagem visualmente poética que representa a atmosfera do livro e do filme, carregados de beleza, introspecção e sentimentalismo.

Sinopse

"Eu não sei viver"

Florbela Espanca casa pela terceira vez. É mulher, nora, irmã, filha, amiga. É tudo, menos poeta. Vive entre a realidade de Matosinhos e a ficção de uma outra existência que abandonou no papel. E todos os dias se questiona, todos os dias é real na sua guerra privada entre aquilo que os outros querem e aquilo que ela ambiciona. É neste intervalo mágico e possível que o autor se revela. É neste período entre o casamento com o Doutor Lage e a morte do irmão Apeles que tudo acontece, numa viagem ao mais íntimo poema de uma mulher que viveu fora do corpo, fora do género, acima do chão, rasgando a condição e tentando sempre encontrar uma verdade que nunca chegou. Ou será que chegou? Nesta viagem iniciática, Florbela, Apeles e o autor questionam tudo ou questionam a existência pura do sonho e da vida - como se todos nós fossemos feitos do desejo, da dor e dessa constatação trágica de não saber viver. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Vicente Alves do Ó é um conhecido cineasta e escritor português que se tem destacado pela sua versatilidade e criatividade nas suas produções artísticas. Nascido em Lisboa, Alves do Ó construiu uma trajetória marcante tanto no Cinema como na Literatura, conquistando prémios e reconhecimento internacional. Com uma abordagem sensível e provocativa, ele explora nas suas obras questões sociais, amorosas e existenciais, mergulhando fundo na alma humana. Os seus outros trabalhos incluem filmes como Al Berto (2017) e Quinze Pontos na Alma (2011), nos quais apresenta uma estética cinematográfica singular e uma narrativa envolvente. Sem dúvida, este autor é um artista completo e talentoso, capaz de nos transportar para universos paralelos através das suas palavras e imagens. 


Florbela Apeles e Eu apresenta uma envolvente história que mistura ficção e realidade ao retratar a peculiar relação entre o narrador/autor e a personagem Florbela Espanca. Não seria nada de estranho, não fosse o caso de Florbela ter falecido muitos anos antes do nascimento do autor e o livro defender que, nessas circunstâncias, ainda se conseguem ver e falar. A interação entre estes dois personagens, a quem se junta o irmão da escritora, Apeles, é marcada por um intenso jogo de sedução intelectual e emocional, repleto de tensões e conflitos que dão vida à narrativa. Além disso, Alves do Ó utiliza uma linguagem poética e sensível para descrever as emoções e os dilemas da protagonista, o que por vezes se torna um tanto ou quanto confuso de acompanhar e entender. Muito bonito, mas pouco capaz de prender todos os leitores. 


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A fluidez da escrita do autor é um dos atributos mais marcantes no seu livro. O estilo poético transparece por meio duma linguagem delicada e envolvente, que cria uma atmosfera poética ao longo da narrativa, criando imagens mentais de grande beleza. Adicionalmente, o autor utiliza recursos como metáforas e imagens poéticas, enriquecendo mais a sua escrita e o seu estilo peculiar. Fica evidente que Vicente domina a arte da palavra, transformando cada página num verdadeiro poema, capaz de emocionar os seus leitores. 


"Sem nome de pai, sem nome de família, sem nome, filha do vento, do ar, de uma promessa, de um homem fantasma e vingativo, filha de uma mulher medrosa e desiquilibrada, irmã de um anjo, criada por um desgosto. Florbela, na sua liberdade de bastarda, era tão livre como são os elementos e por isso, talvez por isso, diante do papel ou do mundo, ela não precisasse de qualquer outra coisa senão ela própria." 


Em Florbela Apeles e Eu, Vicente Alves do Ó apresenta uma narrativa que envolve diversos temas e questões que permeiam a vida de Florbela. O amor surge como um elemento central, explorando as suas diferentes manifestações e nuances, desde o amor romântico até o amor próprio e autodescoberta, sem esquecer o fatal amor fraternal. A arte também desempenha um papel importante, como uma forma de expressão e busca por um sentido na vida. Além disso, o questionamento sobre a identidade e a busca interior são abordados de forma profunda, levando-nos numa viagem turbulenta pelas emoções, medos e desejos mais íntimos de Florbela. Mergulhando na intimidade da misteriosa escritora, tece uma trama em cima do que se sabe, do que imagina e do que gostaria que tivesse sido, trama enriquecida com as reflexões sobre a existência humana e os caminhos que percorremos em busca de sentido e de felicidade. 


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Este é um livro que já saiu de catálogo e que comprei na última Feira do Livro de Lisboa e que esperava que fosse um romance biográfico. Até pode ser considerado, mas está longe, muito longe das minhas expectativas. Inicia-se no momento em que Florbela se separa do segundo marido e corre para os braços do que será o terceiro e último marido, num momento de violência e de profunda tristeza. Os acontecimentos são narrados de forma confusa para quem agarra no livro e encontra a sua protagonista num momento tão avançado da sua vida e que, fica claro, não se trata de um prólogo antes de voltar atrás no tempo. Depois, acompanhamos a sua viagem para o Porto com este homem que parece salvar a sua vida, mas não a sua alma. O pai e o irmão cortam relações devido a mais um escândalo e a escritora fica isolada e distante do seu Alentejo e da sua Lisboa. Entretanto, fica mais fácil entender o que o autor pretende nos contar, mas não é um processo simples, fácil ou acessível e que demora ainda alguns capítulos. 


"A escrita é uma doença. Uma febre. Conquista o mundo quando alguém lhe nega a escravidão. Florbela, recusando-se ou escusando-se na escrita, obrigava-se a vivê-la num inferno ainda maior - como miragem ou inferno, pouco importa." 


Por outro lado, a profundidade e a relevância de Florbela Espanca são de extrema importância. Foi uma das maiores poetisas portuguesas do século XX, trazendo à tona temáticas como o amor, a solidão, a liberdade e a sexualidade feminina de forma intensa e visceral. A sua poesia, que estou a ler neste momento, marcada pela paixão e pela dor, permite uma reflexão profunda sobre as emoções humanas, despertando nos leitores de todas as épocas uma conexão emocional e introspectiva. Sem esquecer a vida de Florbela, marcada por tragédias pessoais e pela luta contra os estereótipos e tabus da sua época, que proporciona uma melhor compreensão das dificuldades enfrentadas pelas mulheres artistas e a necessidade de se expressarem num mundo patriarcal. Assim, tanto a profundidade poética quanto a força da trajetória de Florbela Espanca continuam a ressoar nos dias de hoje, inspirando e desafiando a sociedade a refletir sobre questões de género, amor e liberdade individual. Essa inspiração, claramente, marcou este nosso autor. 


Na minha opinião, o livro Florbela Apeles e Eu deixou a desejar e não conseguiu cativar-me tanto como esperava. Ao longo da leitura, a trama mostrou-se confusa e pouco envolvente, fazendo com que me sentisse meio perdida por vezes e com pouca ligação à mensagem que se pretendia passar. Percebi ainda uma falta de desenvolvimento de alguns temas abordados e da própria vida da escritora. Ainda assim, estamos perante uma obra singular, com uma protagonista fascinante e uma beleza poética estarrecedora. Portanto, deixo-te o convite para tirares o livro da estante ou procurares um exemplar usado para comprar e tirares as tuas próprias conclusões. Afinal, estamos perante um autor português, que não é assim tão reconhecido pelo seu trabalho literário e que merece que lhe dês uma oportunidade. Já conheces o trabalho do autor? Leste o livro? Viste o filme que se baseou nesta obra? O que pensas da figura de Florbela Espanca? Conta-me tudo nos comentários e vamos conversar! 

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