Sinopse
A Ilíada é o primeiro livro da literatura europeia e, sob certo ponto de vista, nenhum outro livro que se lhe tenha seguido conseguiu superá-la - nem mesmo a Odisseia. Lido hoje, no século XXI depois de Cristo, a Ilíada mantém inalterada a sua capacidade de comover e de perturbar.
As civilizações passam, mas a cultura sobrevive? É nesse sentido que parece apontar a mensagem deste extraordinário poema épico, que decorre durante o décimo ano da guerra de Troia, tratando da ira, do heroísmo e das aventuras e desventuras de Aquiles (em luta contra Agamémnon), apresentando-nos personagens como Heitor, Eneias, Helena, Ájax e Menelau, bem como episódios que marcam toda a história da nossa civilização: nas palavras de Frederico Lourenço, é um «canto de sangue e lágrimas, em que os próprios deuses são feridos e os cavalos do maior herói choram».
Opinião
Já estou em pulgas só de pensar que estamos quase a receber mais uma nova Feira do Livro de Lisboa, agora de volta às datas normais, e nada como continuar a reduzir a lista de livros por ler das compras feitas na Feira de 2022. É assim que a minha consciência fica menos pesada, pois tenho a certeza que não vou resistir a comprar novos livros que precisam viver na minha estante e que quero muito ler, ainda que não tenha tempo de os ler todos antes da próxima edição. Foi assim que me dediquei a ler um senhor clássico da Literatura europeia, Ilíada.
Este é um poema épico, cuja autoria é atribuída a Homero, figura misteriosa da Grécia Antiga, sobre quem se sabe muito pouco ou quase nada. Confesso que sempre tive algum medo de entrar nestas obras antigas, sem que fosse pelas adaptações infanto-juvenis, porque acreditava que iria ser difícil de entender a linguagem, o vocabulário e a própria estrutura da narrativa. Estes preconceitos fizeram com que nunca tivesse arriscado comprar um exemplar, e agora entendo como estava enganada. Muito embora, acredite que o trabalho de tradução do Frederico Lourenço seja um factor decisivo para o sucesso desta minha leitura.
Podes ler também os 20 Clássicos que me faltam ler
Ao contrário do que muita gente que nunca leu o livro diz, a Ilíada não conta a Guerra de Tróia, mas apenas um episódio dessa guerra fascinante, que não incluí sequer o final dela. Está mais próxima do final do que do início, longos anos já se passaram e o cansaço é evidente em ambos os lados desta contenda. Aquele que é considerado o grande protagonista deste livro, Aquiles, passa longos capítulos ausente das batalhas. Quando lemos a obra completa, percebemos que o protagonista está mais perto de ser o herói de Tróia, Heitor. Estes são alguns dos mitos mais comuns que encontramos em torno deste livro clássico, e que só podem ser desmitificados com a leitura.
"Já passaram nove anos do grande Zeus:
das naus apodrecem as madeiras, soltam-se as amarras.
As nossas esposas e os nossos filhos pequenos
estão sentados nos palácios à nossa espera. Mas a nossa tarefa
está por cumprir - aquela por causa da qual aqui viemos."
Como referi, a Guerra de Tróia leva longos anos sem que se esteja próximo de um desfecho, a vitória parece escapar por entre os dedos de ambos os lados. Umas vezes, sentem que os deuses favorecem os Troianos, outras, parece que estão a auxiliar os Aqueus. Aliás, os deuses do Olimpo são personagens presentes ao longo de todo o livro, manifestando a sua predilecção e procurando ajudar os seus favoritos. Existe uma divisão nos apoios, embora sejam todos limitados pelas ordens do grande Zeus, isto quando não procuram desobedecer e fazer valer as suas vontades pessoais. A quantidade de nomes que se sucedem pode-se tornar confuso e a probabilidade de nos perdermos nessas ligações é muito grande. Usar um bloco de notas pode ajudar muito neste processo, bem como ter por perto um livro de apoio sobre Mitologia. Nesta leitura, utilizei O Livro da Mitologia, simples, prático e com informação sucinta e útil.
Podes ler ainda a minha opinião sobre Rei Édipo
Numa fase inicial, temos todos os heróis de ambos os lados dedicados a vencer cada batalha, e determinados em terminar com uma guerra que parece não ter fim. A superioridade dos Aqueus parece estar em evidência, e os Troianos começam a desanimar, estando até dispostos a restituir os bens que Paris trouxe de Menelau, só que este está determinado a receber a sua esposa traidora de volta. A bela Helena foi a causadora desta Guerra infinita, e parece ser a única capaz de a terminar sem que Tróia seja invadida, saqueada e destruída. Mas o orgulho ou o amor, impede que tomem a decisão mais fácil. Só que a reviravolta começa a surgir quando Agamémnon decide ofender Aquiles, herói sensível e com um ego muito grande, que nesse momento decide não participar mais nesta guerra.
"Sobre nós fez Zeus abater um destino doloroso, para que no futuro
sejamos temas de canto para homens ainda por nascer."
Esta decisão do grande herói faz com que os Troianos ganhem uma vantagem importante, até porque Zeus decide permitir que a falta de Aquiles seja verdadeiramente sentida, não permitindo que os deuses ajudem os Aqueus. Assim, durante longos capítulos, Aquiles está desaparecido da narrativa, e os Troianos estão perto de alcançar as naus e expulsarem os Aqueus ou de os destruírem totalmente, liderados pelo corajoso Heitor, filho do rei de Tróia e irmão de Paris, o causador da contenda. Apesar de ameaçar abandonar a praia de Tróia com os seus homens, o orgulhoso Aquiles fica porque pretende precisamente que lhe peçam, que implorem pelo seu regresso, o que só poderá acontecer se tiver paciência para esperar pelo momento certo.
Portanto, agora que terminei a leitura de a Ilíada, posso assegurar-te que vais ser capaz, basta para isso que gostes de ler e tenhas interesse nas obras fundadoras da Humanidade ou simplesmente tenhas fascínio pela Mitologia Grega. Não conheço as outras, mas esta edição da Quetzal, além de ser linda e de qualidade superior, é muito acessível e simples de ler, sem esquecer a qualidade do papel e do tamanho de letra que torna a tarefa de ler as mais de quinhentas e cinquenta páginas um prazer. Se os meus argumentos não foram suficientes para te convencer, podes ver o vídeo da Tatiana Feltrin, que também leu esta tradução.
Já conheces este poema épico? Já te atreveste a ler esta obra fundadora? Que desafios encontraste nesta leitura? Conta-me tudo nos comentários e vamos conversar sobre a Ilíada!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário. Terei todo o gosto em responder muito em breve.
*Não esquecer de marcar a caixinha para receber notificação quando a resposta ficar disponível.
Até breve!