Sinopse
Uma rainha não foge, não vira costas ao seu destino, ao seu país. D. Amélia de Orleães e Bragança era uma mulher marcada pela tragédia quando embarcou, em Outubro de 1910, na Ericeira rumo ao exílio. Essa palavra maldita que tinha marcado a sua família e a sua infância. O povo acolheu-a com vivas, anos antes, quando chegou a Lisboa. Admirou a sua beleza, comentou como era alta e ficou encantado com o casamento de amor a que assistiu na Igreja de São Domingos. A princesa sentia-se uma mulher feliz. Mas cedo começou a sentir o peso da tragédia. O povo que a aclamou agora criticava os seus gestos, mesmo quando eram em prol dos mais desfavorecidos. O marido, aos poucos, afastava-se do seu coração, descobriu-lhe traições e fraquezas e nem o amor dos seus dois filhos conseguiu mitigar a dor. Nos dias mais tristes passava os dedos pelo colar de pérolas que D. Carlos lhe oferecera, 671 pérolas, cada uma símbolo dos momentos felizes que teimava em não esquecer.
Isabel Stilwell, autora best-seller de romances históricos, traz-nos a história da última rainha de Portugal. D. Amélia viveu durante 24 anos num país que amou como seu, apesar de nele ter deixado enterrados uma filha prematura que morreu à nascença, o seu primogénito D. Luís Filipe, herdeiro do trono, e o marido D. Carlos assassinados em pleno Terreiro do Paço a tiro de carabina e pistola. De nada lhe valeu o ramo de rosas que tinha na mão e com o qual tentou afastar o assassino. Outras mortes a perseguiriam...
Opinião
Depois de ter terminado todos os livros sobre os reis ingleses de Philippa Gregory, resta-me a alegria de ainda existirem muitos da minha autora de romances históricos portuguesa favorita. Falo de Isabel Stilwell que, além de ter muitos livros nesta área publicados, continua a escrever livros novos sobre outros monarcas emblemáticos, o que só me causa alegria e entusiasmo. Conheço o seu trabalho e reconheço a pesquisa séria que sempre faz. Aconteceu várias vezes ter lido uma biografia da figura histórica antes de partir para o seu romance e, na posse dos factos, consigo encontrá-los nas suas narrativas de uma forma que se entrelaça na perfeição com os elementos ficcionais que adiciona.
Foi isso mesmo que aconteceu neste livro sobre a última rainha de Portugal, D. Amélia de Orleães. Em 2019, li uma biografia sobre esta figura, baseada nos factos conhecidos e nas inúmeras cartas que escreveu ao longo da sua longa vida, com algumas das personalidades mais importantes do século XX. No romance de Isabel Stilwell, não encontrei nada que entrasse em contradição com os factos relatados, bem pelo contrário. Aqui viajamos pela infância de Amélia, ainda em Inglaterra, no exílio onde se encontra toda a sua família, quando estavam impedidos de pisar em solo francês.
Podes ler também a minha opinião sobre D. Manuel I
Fica logo nítida a grande influência que o seu pai tem na criação da sua personalidade e da sua consciência humanista. É com essa figura paterna, príncipe impedido de exercer a sua função pela República francesa, que entende qual a real função da monarquia, o papel exigente dessas figuras que deverão dar o exemplo e ajudar os seus povos a ter uma vida melhor. Por contraste, a relação com a mãe é mais difícil e complexa. Com personalidades bem diferentes, a filha sente que não consegue estar à altura das expectativas da mãe, competindo com tantos irmãos que lhe seguiram, ao mesmo tempo que sente que a mãe não foi para ela como gostaria que tivesse sido. É uma relação conturbada, mas onde o tempo irá revelar que o amor está lá, no sítio certo.
"O conde de Paris olhava para a mulher comovido: o seu sangue espanhol estava espelhado na cor dos seus cabelos, na tonalidade da sua pele, naquela impulsividade tantas vezes incómoda, mas sempre espontânea, naquela energia sem limites que os deixava a todos exaustos no esforço de lhe acompanhar o passo."
O regresso a França e a mera esperança de que o pai possa ocupar o trono que deveria ser seu, mobiliza toda a gigante família Orleães, que parecem infinitos. No início do livro existe uma genealogia que nos ajuda a identificar todos os personagens e as ligações complexas entre si. Afinal, estamos perante uma família com o hábito de se casar entre si. É o caso dos pais de Amélia, que são primos em primeiro grau. O tio, irmão do seu pai, também se casa com uma prima. Só para dar dois exemplos expressivos e que tentam que se repita com os seus filhos, ainda que sem sucesso. Esta primeira fase da vida da princesa francesa, embora tenha momentos amargos e de dor, é repleta de alegrias, de notícias felizes, de esperança num futuro melhor.
Podes ler ainda a minha opinião sobre Inês de Castro
Quando chega aos vinte anos, embora ainda seja muito inexperiente, a vontade de descobrir o amor já existe nela, embora não saiba como isso poderá acontecer. Os condes de Paris, pais de Amélia, sentem-se reticentes em entregar a sua primogénita a um pretendente que não seja perfeito, capaz de tratar bem da sua menina e proporcionar o que ela merece, uma posição que nasceu para exercer. Quando o príncipe herdeiro de Portugal parece estar em busca de uma princesa para casar, ninguém tem certezas de que seja esse o caminho. Embora as monarquias na Europa estejam em crise, a monarquia portuguesa não parece muito atraente à primeira vista.
"Amélia não tinha dúvidas de que gostaria de ter o poder de mudar o mundo e torná-lo num lugar melhor e mais justo. Não era para isso que os reis serviam, como dizia constantemente o pai?"
Mas quando o encontro entre os dois jovens acontece, a atração é evidente e o sedutor Carlos consegue seduzir a princesa e também a sua família numerosa. Portugueses e franceses ficam fascinados por esta história de amor real, pois irão assistir a um verdadeiro casamento real por amor, por gente que se conheceu e se apaixonou, como as pessoas normais. Mas nem só de amor é feita esta relação. Para Carlos, ganha fortes aliados franceses, além de uma bela princesa para lhe dar herdeiros para a coroa. Para Amélia, é a oportunidade de vir a ser rainha no futuro e pôr em prática tudo o que aprendeu com o seu adorado pai. Os primeiros anos são de idílio, ainda que pelo meio tenha perdido uma filha que nasceu prematura.
Depois, a vida e o próprio Carlos destruiu todas as suas ilusões e sonhos de amor e de realeza. O livro segue com um ambiente cada vez mais sombrio, com uma Amélia desiludida com o marido, como homem e como rei, e desiludida por não sentir que os seus gestos não eram entendidos pelo seu povo. Apesar de estar preparada para reinar e ter deixado um grande legado social em Portugal, teve a infelicidade de viver tempos conturbados e perigosos para os monarcas e pagou esse preço com uma tragédia que lhe mudou a vida e marcou o regresso a um exílio que jurou que não lhe voltaria a acontecer.
Só te posso recomendar todo e qualquer livro desta autora extraordinária, e este em particular que retrata bem o universo conturbado do final do século XIX e início do século XX na Europa, em convulsão com movimentos revolucionários. O pano de fundo é fascinante e a vida de Amélia tocante. Já conheces os livros de Stilwell? Qual o teu favorito? Conhecias o livro sobre Amélia de Orleães? Conta-me tudo nos comentários e vamos conversar sobre romances históricos!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário. Terei todo o gosto em responder muito em breve.
*Não esquecer de marcar a caixinha para receber notificação quando a resposta ficar disponível.
Até breve!