Sinopse
Oscar Wilde, um dos maiores nomes da literatura do século XIX, publicou inicialmente O Retrato de Dorian Gray no periódico norte-americano Lippincott's Monthly Magazine, em 20 de Junho de 1890.
Dorian Gray é um belo e ingénuo rapaz retratado pelo artista Basil Hallward numa pintura. Mais do que um mero modelo, Dorian Gray torna-se a verdadeira inspiração para Basil. Devido ao facto de todo o seu íntimo estar exposto em sua obra-prima, Hallward não divulga a pintura e decide presentear Dorian Gray com o quadro. Com a convivência de lorde Henry Wotton, um cínico e hedonista aristocrata amigo de Hallward, Dorian Gray é seduzido ao mundo da beleza e dos prazeres imediatos e irresponsáveis, espírito que foi intensificado após, finalmente, conferir o seu retrato pronto e apaixonar-se por si mesmo.
A partir de então, o aprendiz Dorian Gray supera o seu mestre e cada vez mais se entrega à superficialidade e ao egoísmo. O belo rapaz, ao contrário da natureza humana, misteriosamente preserva os seus sinais físicos de juventude, enquanto todos os demais envelhecem e sofrem com as marcas da idade. O desfecho da história é surpreendente, cujo segredo está n'O Retrato de Dorian Gray. O clássico despertou grande polémica na Inglaterra vitoriana pelo comportamento indiferente, pelo Esteticismo como principal tema e pela dualidade da personagem principal, hedonista e conservadora, que frequenta tranquilamente as reuniões da alta sociedade inglesa após cometer os seus crimes.
Opinião
Ainda era uma miúda quando li pela primeira vez a obra mais famosa de Oscar Wilde, embora tenha lembrança das sensações e do impacto que deixou, não conseguia recordar-me de pormenores nem tão pouco do final surpreendente, que nada tem a ver com a última adaptação cinematográfica da obra. Mas confesso que, à medida que lia as últimas páginas, as memórias desse momento icónico iam regressando, provando que ninguém se esquece verdadeiramente de um desfecho desses.
Ainda não encontrei nenhuma adaptação que faça justiça a esta história extraordinária, com todos os ingredientes necessários e que retrata na perfeição o ideal do século XIX. Tudo começa e termina e gira em torno do protagonista, Dorian Gray. Logo nas primeiras páginas o trio central é apresentado: o pintor Hallward, artista que encontrou a sua musa e está no auge artístico; Gray, um jovem cuja beleza espelha a sua inocência e pureza; e o Henry, nobre que chega e se deslumbra com a beleza de Dorian e o influencia de forma irreparável, ensinando-lhe os prazeres da vida e o valor da beleza e da juventude para a sociedade da época.
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Com a aproximação de Henry, Dorian afasta-se do pintor aos poucos, não sem antes este lhe entregar a sua obra-prima, o retrato que fez do jovem e que iria imortalizar a sua beleza para sempre. Seria de esperar que o pintor quisesse expor a sua obra para que o mundo constatasse o seu talento, mas a sua decisão é de não mostrar o quadro. Quando questionado, revela o seu maior segredo, a influência que sentiu ao ter Dorian ao seu lado e que sentiu ter exposto este seu segredo, os mistérios da sua alma e dos seus sentimentos pelo jovem na tela que pintou.
"Meu querido amigo, nenhuma mulher é genial. A mulher é um sexo decorativo. Nunca têm nada a dizer, mas dizem-no de uma maneira encantadora. As mulheres representam o triunfo da matéria sobre o cérebro, do mesmo modo que os homens representam o triunfo do cérebro sobre a moral."
E assim, o tempo vai-se passando, com a influência cínica de Henry sobre Dorian a crescer, e a vaidade do jovem a multiplicar-se ao ponto de formular o desejo em voz alta. O desejo de ficar para sempre jovem e belo, enquanto os sinais do tempo se fariam sentir na tela. Parece absurdo, mas a sua prece foi atendida e é isso mesmo que passa a acontecer. Ninguém se apercebe de nada no momento, nem o próprio, até que um desgosto de amor, um acto de desumanidade e de crueldade leva ao suicídio de uma mulher.
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Depois de saber as consequências, depois de ter abandonado Sibila Vane, olha para o seu retrato e percebe que ele mudou. O choque deixa-o transtornado, mas não quer acreditar no que os seus olhos viram. Passados alguns momentos de negação, acaba por aceitar, mesmo sem entender como seria possível, e decide esconder o quadro dos olhos dos demais. Sabendo que nada do que faça, a si ou aos outros, será visível na sua fisionomia, mergulha profundamente na vida de excessos, de prazeres, pecados e passa a corromper outros ao seu redor, isto sem nunca perder a sua aparente juventude. Os anos passam, o mistério sobre a sua aparência impossível começa a crescer, mas sem que nunca possam imaginar o abismo em que caiu.
"Meu querido amigo, os que não amam mais do que uma vez na vida são os verdadeiros superficiais. O que eles chamam a sua lealdade ou a sua fidelidade eu chamo a letargia dos costumes ou a falta de imaginação. A fidelidade é na vida emocional o que a consciência é na vida intelectual, uma simples confissão de fracassos."
É uma viagem pelos meandros da vida de excessos, da procura de prazer, do quanto uma alma pode ser corrompida quando o castigo não é público. É uma recriação do icónico pacto fáustico pela visão de Wilde, que marcou uma viragem da época vitoriana para a época moderna, além de ter causado um escândalo enorme quando foi publicado, ainda que censurado por quem decidiu publicou. Fascinante a escrita de Oscar Wilde, a crítica que fez à sociedade londrina, e o enredo que criou onde nos coloca frente a frente com o caminho que todos poderíamos seguir, caso não existisse castigo para os nossos crimes, para as nossas faltas.
Foi a minha segunda leitura, mas tenho a certeza que não foi a última. É sempre um prazer regressar aqui e perceber a perfeição da obra. Se ainda não estás convencida de que precisas de ler O Retrato de Dorian Gray, podes ver os vídeos da Tatiana Feltrin e da Isabella Lubrano sobre este livro extraordinário. Se ainda não entraste nesta obra, vai a fundo, não te vais arrepender! Já leste este livro? Ou alguma coisa do autor? O que achas da sua obra e da sua vida? Conta-me tudo nos comentários!
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