Sinopse
Datado de 1866, Crime e Castigo é o primeiro dos grandes romances que Dostoiévski escreveu - já em plena maturidade literária - e, provavelmente, a mais bem conhecida de todas as suas obras.
Recriando um estranho mundo em torno da figura do estudante Raskólnikov, atormentado pelas privações e duras condições de vida, este é por excelência um dos livros fundadores da modernidade literária.
Pelo inexcedível alcance e profundidade psicológica, sobretudo no que respeita às motivações não conscientes e à aparente irracionalidade dos comportamentos das personagens. Dostoiévski tornou-se uma referência universal na literatura.
Opinião
Fiódor Dostoiévski, um dos maiores escritores da literatura russa, nasceu em 1821 e faleceu em 1881. Conhecido pelas suas obras ricas em análise psicológica e filosófica, o autor aborda temas como a moralidade, o amor, o sofrimento e a redenção. Em 1866, publica uma das suas obras mais famosas, Crime e Castigo, que narra a história do jovem estudante Raskólnikov. Estamos perante um dos grandes mestres da literatura universal, cuja influência perdura até aos dias de hoje e era capaz de apostar que assim será ainda durante os próximos séculos. Neste livro em particular encontramos temas como a culpa, a redenção, a punição e o sofrimento humano.
Situado na Rússia do século XIX, a narrativa acompanha a jornada dum jovem estudante que decide cometer um assassinato para provar a sua teoria de que algumas pessoas estão acima das leis morais. A partir desse acto, o protagonista é consumido pela culpa e pelo remorso, desencadeando um intenso conflito interno que o leva a questionar os seus valores e a sua própria existência. Esta obra-prima de Dostoiévski desafia as convenções sociais e morais da época, revelando as profundezas da mente humana perturbada e as consequências devastadoras das nossas acções.
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Raskólnikov talvez seja um dos personagens mais irritantes da história da literatura. Atormentado por pensamentos de grandeza e teorias sobre a sua superioridade em relação aos demais, acaba por cometer um brutal assassinato de forma a provar esta sua teoria. A vítima, uma velha viúva abastada que, segundo o nosso protagonista, vivia de explorar os pobres ao aceitar em penhora os seus poucos bens por algum dinheiro que lhes permita sobreviver. Assim, resolve cometer esse acto por considerar que estaria a fazer um favor à sociedade e que poderia utilizar as suas riquezas para ajudar muita gente, incluindo a si próprio. Depois do crime e de conseguir escapar por pura sorte de ser apanhado em flagrante, cai doente por vários dias, chegando a ser considerado louco pelos amigos preocupados com a sua saúde. Mas mesmo quando a culpa o assola e começa a considerar que talvez não fosse da qualidade superior por que se tomava, a sua arrogância parece não ter fim e as suas provocações irritam todos, além de aumentar as suspeitas sobre si mesmo.
"Pois bem, eis a questão: é a doença que engendra o crime ou é o próprio crime que, pela sua natureza peculiar, é sempre acompanhado por uma espécie de doença?"
Os personagens principais são todos complexos e repletos de camadas psicológicas profundas. Além do próprio Raskólnikov, que nos transmite uma série de sentimentos contraditórios, temos ainda Sonya, uma prostituta com uma grande influência inesperada sobre o jovem estudante, e que é retratada como uma figura de redenção e bondade, mesmo dentro da sua própria tragédia pessoal. Outras personagens marcam presença com bastante relevância, como o melhor amigo de Raskólnikov, a sua mãe e a sua irmã, chegadas à grande cidade, e a própria família de Sonya, com um pai alcoólico e uma madrasta tísica, parecem servir para nos mostrar várias formas de viver e lidar com a miséria e a pobreza. Também a forma como reagem aos comportamentos incómodos e inconvenientes do protagonista são bem diferentes, mas todos procuram afastar todas as dúvidas sobre a sua conduta, desculpando tudo a todo o momento.
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Através da história deste jovem e arrogante estudante, que comete um assassinato porque pensa estar acima das leis morais e sociais, o autor faz-nos refletir sobre os limites éticos e a busca pela redenção. A culpa que o atormenta, ainda que não chegue a ser arrependimento, e o leva ao limite da sua sanidade mental, assim como a procura por justificação dos seus actos, são questões que ecoam a complexidade da natureza humana. Dostoiévski convida-nos a questionar a validade dos nossos valores e a enfrentar o dilema moral presente em cada um de nós. Num cenário sombrio e melancólico, onde a própria cidade tem um papel activo na transmissão destas sensações, somos conduzidos por um labirinto de sentimentos e questionamentos, revelando as fragilidades e grandezas da alma humana, por vezes, escondidas onde menos se espera.
"Existir, apenas, nunca tinha sido bastante para ele, sempre quisera mais. Talvez tivesse sido só por força dos seus desejos que se considerara a si mesmo como um homem a quem era permitido mais do que aos outros."
Em Crime e Castigo, o autor volta a presentear-nos com uma narrativa densa e complexa, característica marcante do seu estilo literário único. Mais uma vez, leva-nos por uma viagem às profundezas da mente humana, mergulhando nos intricados pensamentos e emoções dos seus personagens de forma intensa e detalhada. A sua escrita é sempre carregada de simbolismo e de metáforas, criando uma atmosfera sombria e angustiante que nos prende do início ao fim da trama, e que quase nos obriga a sentir essa angústia, o medo e a culpa de Raskólnikov. Neste primeiro grande livro da sua maturidade, Dostoiévski apresenta-nos uma obra magistral e que tem marcado profundamente muitos autores posteriores e uma infinidade de leitores ao redor do mundo. Com uma escrita poderosa, uma trama repleta de reviravoltas e personagens que nos causam emoções contrárias, este é um livro que fica na nossa cabeça muito tempo depois de terminado.
Em suma, é por tudo isto que Crime e Castigo se tornou uma obra atemporal que continua a ser relevante para a literatura e para a sociedade actual. Com a sua escrita profunda e intensa, Dostoiévski mostra-nos que, mesmo num mundo em constante evolução como o nosso, os dilemas morais e existenciais ainda são tão relevantes e urgentes quanto no século XIX. Ao concluir este leitura, sem que tenha ficado apaixonada ou rendida a nenhuma das personagens, é inegável a genialidade do autor na abordagem que faz aos temas mais complexos e que parecem determinar o que é, de facto, a justiça. Apesar de ser um clássico, não tem nada de difícil na sua leitura, a linguagem é acessível, apenas os temas abordados são pesados e talvez precisem de alguma maturidade para a sua total compreensão. É o livro perfeito para quem procura uma leitura profunda e reveladora e é destemido o suficiente para não se intimidar com o nome famoso do autor. No entanto, se ainda precisas de mais motivos para ler Crime e Castigo, aconselho que vejas o vídeo da Tatiana Feltrin e te rendas às evidências.
Agora, quero saber a tua opinião sobre este livro e sobre Dostoiévski. Já leste Crime e Castigo? O que achaste deste protagonista irritante? Que outros livros leste deste autor russo e que recomendas? Conta-me tudo nos comentários!
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