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terça-feira, 16 de maio de 2023

#Livros - Pedaços de Vida, de Judite Sousa

 

#Livros - Pedaços de Vida, de Judite Sousa

Sinopse

Partindo de pedaços da sua vida pessoal e profissional, Judite Sousa reflecte, neste livro, sobre a nossa existência em sociedade, sobre a forma como comunicamos, como agimos, como evoluímos. 

Ao longo da vida, passamos por experiências que nos vão marcar, que vão definir a nossa maneira de estar, de pensar e, no limite, de agir. Guardamos o que nos foi acontecendo de bom e de mau. Conhecermo-nos é um exercício difícil, porque as circunstâncias da vida apanham-nos, muitas vezes, de surpresa e não estamos preparados para lidar com mágoas, tristezas, mentiras ou, em sentido contrário, alegrias ou bem-estar. 

O que damos como certo e verdadeiro pode deixar de o ser em horas, minutos, segundos. Em rigor, ninguém pode dizer que está preparado para as maiores adversidades: a decepção, o fracasso ou a morte. 

A vida é uma aprendizagem permanente e, neste livro, Judite Sousa fala sobre a Vida, tal como a entende e tal como a vive até hoje. 

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Opinião 

Esta foi uma leitura totalmente inesperada e pouco programada da minha parte. Confesso que não tinha intenção de comprar o novo livro de Judite Sousa, mas ele chegou cá a casa depois do meu pai ter comprado e terminado a sua leitura. Ele ficou algum tempo na estante esquecido, até que vi a entrevista que a autora e jornalista deu a Daniel Oliveira no seu Alta Definição e fiquei com muita curiosidade de descobrir de forma mais aprofundada o que Judite teria a esclarecer, o que queria contar sobre os anos mais difíceis que viveu depois da tragédia que se abateu na sua vida. A perda do seu único filho foi devastadora e tem sido impossível voltar a ser a mulher que antes fora. 


Por muita empatia que tenhas, penso que nunca será possível compreender a dimensão da dor causada pela perda de um filho sem ter passado pela situação. Este talvez seja o exercício de empatia mais difícil de alcançar, e por isso seja tão complicado para a maioria entender os comportamentos desiquilibrados de Judite. O primeiro aspecto que me saltou logo à vista, é que a sua escrita é muito fácil de identificar como sua, pois sentia que a estava a ouvir, como se continuasse a assistir à entrevista anterior. Escreve bem, ou não fosse uma jornalista com uma carreira sólida e com uma trajetória que prima pela competência, e consegue transmitir com clareza as suas emoções, mesmo quando a própria parece andar em busca de as entender. 


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O seu relato de alguns episódios relacionados com a morte do seu filho é de deixar o leitor sem ar, com um registo de uma tristeza sem medida, por vezes um desespero que nos invade também. Ainda assim, encontramos também muitas memórias boas da vida desta mãe, quando o filho estava vivo e era um jovem brilhante, inteligente, determinado e com um futuro fantástico pela frente. A infância, a adolescência e a vida enquanto jovem adulto foram partilhadas e pretendem demostrar que muitas calúnias foram ditas na época que procuraram manchar a memória de uma vítima de um acidente estúpido, com o único propósito de vender revistas, jornais e obter clicks nos sites. A notícia teria de ser dada, afinal era filho de uma figura pública, mas todo o circo em volta, com um propósito puramente comercial e sem empatia dos seus pais, era desnecessário e chegou a ser cruel para uma mulher que acabara de perder o seu único filho. 


"O modo como pensamos, conhecemos, interagimos e agimos não é referenciado em função da idade. Nem do nível de instrução. Há pessoas muito preparadas academicamente, mas que não têm alfabetização emocional." 


Outro aspecto destas memórias dolorosas está relacionado como foi recebida no seu regresso ao trabalho pelos seus colegas, depois da tragédia que viveu. Pelo que conta, foi muito mal recebida pelos seus pares, que não compreenderam a sua pressa em voltar ao trabalho, seja por pura ignorância ou por sentirem que seria a oportunidade de colocar de parte um elemento importante e assim poderem ocupar o seu lugar. Sabemos que os meios profissionais podem ser ferozes, mas nunca deixa de ser revoltante quando nos deparamos com relatos tão crus como os que Judite nos oferece. Alguns nomes ficam subentendidos pelos detalhes, outros achei mais difíceis de descortinar pois não sou assim tão entendida nesses meios da televisão. 


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A verdade é que os nomes só interessam para as pessoas muito curiosas como eu ou que estavam à espera disso para fazer mais manchetes escandalosas que lhes permitissem vender mais à custa da autora. As várias polémicas em que esteve envolvida, como a reportagem que fez na época dos incêndios de Pedrógão e a sua ida para a Guerra na Ucrânia, estão aqui expostas e justificadas, dentro do que é possível explicar. Além disso, temos ainda vários pontos de vista pessoais sobre muitos temas da actualidade que são relevantes do ponto de vista jornalístico e enquanto cidadãos que somos. O fio condutor desta narrativa é o luto, a solidão e o jornalismo. 


"Corremos contra as nossas ideias feitas, os valores e princípios que nos moldaram, o que temos como certo e adquirido e, chegados ao final do dia, achamos que estamos certos e que os outros estão errados. Mais uma vez, é a ideia de que a culpa não é nossa." 


É um livro curto mas repleto de temas pesados, mas contados com uma verdade que escorre por cada palavra, por cada página. Por vezes, com dor, com uma tristeza profunda e entranhada na pele, mas sempre com o intuito de partilhar e fazer com que o leitor pense e reflita sobre vários temas e até sobre si mesmo, sobre a forma como se relaciona com os demais. Tem pouco mais de duzentas páginas, mas é impensável ler de um fôlego, porque a dada altura terás de parar para digerir o que leste, as emoções que foram despertas, as memórias que foram partilhadas. Já leste Pedaços de Vida? O que sentiste ao ler estas memórias de Judite Sousa? Gostas deste género literário? Conta-me tudo nos comentários e vamos conversar sobre livros! 


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Wook | Bertrand 

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