Sinopse
"Ó abre alas, que eu quero passar..." A música mais popular de Chiquinha Gonzaga bem poderia servir como lema para sua vida. Compositora e maestrina de sucesso, numa época em que mulher não tinha profissão, ela abriu caminhos e ajudou a definir os rumos da música brasileira. Deixou uma obra estimada em cerca de duas mil canções e setenta e sete partituras para peças teatrais, maior do que qualquer compositor de seu tempo.
O livro traz cerca de noventa imagens que convidam o leitor a conhecer o Rio de Janeiro da virada do século pelo olhar de grandes fotógrafos, além de fotos do acervo da família. Com uma pesquisa continuada da autora sobre detalhes da vida de Chiquinha, essa edição comemorativa dos 25 anos da obra torna-se imprescindível. Com belas e raras imagens do acervo fotográfico do IMS de Marc Ferrez, Augusto Malta e Georges Leuzinger. Inclui documentos inéditos.
Opinião
Ora aqui está um livro que está na minha wishlist há tempos infinitos. Que é como quem diz, desde que assisti à mini série da Globo sobre Chiquinha Gonzaga. Foi uma série que me marcou imenso e me deixou profundamente apaixonada pela música desta mulher invulgar no Brasil do século XIX e início do século XX. Além de ter sido uma compositora brilhante e invulgarmente produtiva, a sua história de vida é fascinante e sempre tive vontade de saber mais sobre ela.O que em terras de Portugal é tarefa a roçar o impossível. Não existe praticamente nada publicado no nosso país sobre esta compositora brasileira que viveu e trabalhou em Lisboa. Tendo em conta estes factores acima referidos e também tratar-se de uma das pessoas que gostaria de ter conhecido, podes imaginar como fiquei entusiasmada quando descobri, por acidente, este livro à venda no OLX.
Foi daqueles momentos em que nem pensei duas vezes. Ainda mais por se tratar de uma edição brasileira, muito difícil de encontrar por estes lados e por um preço inacreditável. Quando acreditava que teria de esperar por uma viagem ao Brasil para ter artigos sobre Chiquinha Gonzaga, surge-me este presente caído dos céus! Agora só me falta a partitura de Lua Branca, que terá de ficar à espera das minhas férias por terras de Vera Cruz.
Esta é a música de abertura da mini série, presente em diversos momentos do enredo e que só comprova o talento imenso de Marcos Viana como compositor. A forma como capta a época e o espírito com que a história de Chiquinha é contada é brilhante e só acrescenta valor.
Agora, voltando a atenção para o livro escrito por Edinha Diniz, quero começar por dizer que faz um retrato pormenorizado do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX e no início do século XX. Assim, de uma forma encaixada no devido contexto da época, vamos conhecendo o que se sabe sobre a infância e adolescência de Chiquinha, seguindo-se o casamento e os primeiros filhos com o marido que não suportava a sua dedicação à música e que tinha ciúmes do piano.
Porque só entendendo o real contexto social e político da época e o papel reservado às mulheres é que conseguimos compreender o que poderá ter significado que uma mulher tenha abandonado um marido que não a respeitava, deixando para trás dois filhos pequenos, e abraçado a vida com que sonhava. O escândalo terá sido inaudito e o caminho árduo para uma mulher que apenas pretendia a realização pessoal que apenas a música lhe podia dar.
Não contente com isso, ainda decidiu seguir um amor por outro homem, com quem teve uma última filha, que acabou por abandonar também por não suportar as traições, prática comum entre os homens da época. Desse modo, voltou a refugiar-se na música e iniciou uma brilhante carreira, onde se afirmou como mulher profissional da área e onde contribuiu para a criação de um estilo marcadamente brasileiro.
Rodeada pelos maiores nomes da boémia carioca, tornou-se uma figura central da cultura brasileira e abriu o espaço para que as mulheres pudessem ocupar outro lugar na sociedade, para além de esposa e mãe de família ou prostituta. Abolicionista, republicana, defensora dos direitos dos elos mais fracos da sociedade, fossem as mulheres, os pobres, os negros ou os compositores.
Foi rejeitada pela família, desde os pais até aos filhos que com ela não cresceram, pela sociedade conservadora do Rio de Janeiro, encontrando abrigo apenas entre os artistas que circulavam pela noite e que compreenderam o seu talento, aceitaram a sua decisão admirável de viver segundo o que a sua vontade ditava e a reconheceram como uma igual.
Este não é um romance, nem fantasia sobre o que aconteceu na vida de Chiquinha. Retrata os factos, suportados por informações comprovadas, seja através de documentos ou relatos de quem com ela privou. A especulação encontrada é muito reduzida e claramente identificada como tal, para não deixar margem para dúvidas.
Neste livro temos também inúmeras fotografias e documentos históricos que suportam a narrativa, além de um registo de todas as obras conhecidas da autora, incluindo as que produziu durante os anos que viveu em Portugal. Ao ler esta obra ficamos com a real consciência do quanto esta mulher foi pioneira e estava à frente do seu tempo. É um relato de uma época, onde uma mera mulher foi capaz de romper com as amarras, agarras as rédeas do seu destino e fazer da sua vida o que bem entendeu.
Admito que este pode não ser um livro que, à primeira vista, atraia a atenção de todas as pessoas. Contudo, acredito que a leitura dele vai enriquecer qualquer pessoa que lhe dê uma oportunidade e se predisponha a conhecer a vida da invulgar Chiquinha Gonzaga que, acredito, ainda hoje seria uma revolucionária e encontraria causas dignas para defender.
Já conhecias a compositora e maestra Chiquinha Gonzaga? Que opinião tens sobre esta mulher invulgar?
"É o relato da vida de uma mulher incomum, audaciosa, pioneira, talentosa e com uma enorme determinação de vontade. A antecipação com que usou a liberdade pessoal faz dela a primeira grande personagem na história do Brasil a não ser uma heroína no sentido oficial; não estava ao serviço da pátria, nem da humanidade, nem de um marido. Estava apenas a serviço de si mesma, de suas vontades e desejos. Só que isto não era permitido a uma mulher."
"Esta mulher que desafiava o vernáculo era a mesma que abria alas para a música brasileira. Aliás, romper com o velho e inaugurar o novo foi tarefa de toda a sua vida, seu único compromisso. Não mais esmagada, ela agora explodia em arrebatamento e produção."
Apesar de não ser possível encontrar à venda nas livrarias a edição física deste livro, podes encomendar na Wook o eBook com 10% de desconto em cartão.
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