Sinopse
No dia do seu casamento, uma jovem da alta sociedade de Minas Gerais, estado conservador e católico do Brasil, deixou o noivo pregado na Igreja e abandonou tudo para se tornar prostituta na Zona Boémia de Belo Horizonte.
Nesses anos 60, numa Belo Horizonte a cheirar a jasmim e às granadas de gás lacrimogéneo que a polícia lançava contra os estudantes, surge então Hilda Furacão, a musa erótica que inflama a imaginação da cidade e cuja vida se irá cruzar com os sonhos de três rapazes vindos do interior: um quer ser santo, o outro actor de Hollywood e o terceiro escritor, o repórter que será encarregado de descobrir o segredo de Hilda Furacão.
Um segredo que Hilda lhe promete revelar no dia 1 de Abril de 1964, precisamente cinco anos depois de iniciar a vida de prostituta.
Hilda Furacão existiu (existe) mesmo?
Mistério, romance, humor, ironia e sátira, suspense permanente. Prostitutas, beatas, comunistas, polícias, jornalistas, generais, políticos, malandros, boémios, milionários, uma galeria de personagens inesquecível. Uma obra que agarra e enche completamente o leitor. Um talento narrativo e uma qualidade literárias singulares num romance verdadeiramente popular.
Hilda Furacão acaba de ser considerado um dos 100 melhores livros de sempre da Literatura de Língua Portuguesa.
Opinião
Começo por dizer que, apesar de não se encontrar no Top 10 de livros para ler nas férias, seria uma excelente escolha e te iria proporcionar momentos fantásticos para onde quer que vás. Não é um livro grande, nem pesado para levar na mala, mas faz-nos viajar para a cidade de Belo Horizonte nos idos anos 60, com as suas descrições incríveis dos locais e do ambiente político e social que se vivia à época.
Depois, tem um leque de personagens apaixonantes que nos prende à trama, seja a que se passa na pacata Santana dos Ferros, seja na cosmopolita Belo Horizonte. Os nossos três mosqueteiros são, de facto, um trio do mais diferente de que há memória, mas que estão unidos pela amizade de infância, um dos elos mais fortes que existem, quando amizades verdadeiras.
E, claro, a mítica Hilda Furacão, que se tornou numa lenda, tão misteriosa que já ninguém sabe se existiu de facto ou se foi uma invenção da imaginação dos homens. O que é certo é que colocou a Cidade das Camélias no epicentro de toda a trama e para lá levou o glamour e a dúvida que povoa na cabeça de todos: porque uma menina da alta sociedade decidiu tornar-se prostituta?
Algumas respostas serão dadas ao longo da história, muito embora, a verdade só a própria saberá. A sua paixão pelo Santo é deliciosa e coloca-nos a torcer para que, nesta batalha em particular, a prostituta vença Deus.
Não conhecia de modo algum esta história ou este autor, mas fiquei decidia a ler este livro depois de assistir à mini-série da Globo com o mesmo nome, que tanto sucesso fez no Brasil e em Portugal. Quem não se recorda de ver as filas no Maravilhoso Hotel para os seus dois minutos com a misteriosa Hilda Furacão?
Na verdade, a única personagem de que senti falta no livro foi o rabugento Padre Nelson. Ele é referido, sim, mas como parte do passado, não como parte integrante e influenciadora da luta do Santo contra o pecado. Já na mini-série, ele era o grande conselheiro de Malthus e protagonizou algumas das cenas mais divertidas de que tenho memória.
Portanto, feito o balanço entre as duas histórias, a lida e a vista, fiquei muito contente por ter, finalmente, tido a oportunidade de ler este livro e ficar a conhecer a forma como o autor decidiu contar ao mundo a lenda de Hilda Furacão.
"Ela veio andando na direcção dele como uma festa; no que andava - e isso era natural nela, nunca teve aulas - trazia toda a alegria do mundo; era clara, tinha a Itália materna na pele e a Alemanha paterna nos olhos cor de fumaça e um certo quê louro nos cabelos lindamente presos; e a arrogância, esse não abaixar a cabeça, esse não desviar os olhos, donde é que vinha? O vestido era um tomara-que-caia preto, que assumia a forma surpreendentemente jovem de seu corpo, uma lembrança das missas dançantes do Minas Ténis Clube; e o Santo - que desviou o crucifixo no rumo dela - teve medo de pensar (oh, louco coração!) que ela não usava soutien e que seus seios recordavam duas maçãs argentinas e eram inquietos como os pássaros-do-paraíso."
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