Nesta nova aventura de regressar à vida num apartamento, uma das coisas mais complicadas de lidar é com os vizinhos mais próximos.
Até porque nos 15 anos em que vivi num apartamento em plena capital, a vizinhança era constituída por pessoas que se conheciam desde sempre. Era a única criança no prédio e a vizinha de baixo era amiga de infância da minha mãe. Tudo isto facilitava a convivência. A minha mãe tinha o cuidado de não deixar a malta abusar no barulho. A vizinha não se importava com algumas perturbações da tranquilidade.
Já a vizinha do lado era uma senhora sem filhos e com uma paciência infinita para mim. Logo, não se importava nada com as tais perturbações. Pelo contrário, até contribuía.
Para melhorar a minha experiência, vivia no último andar e portanto nunca tive de me preocupar nem chatear com malta barulhenta. Tudo tranquilo.
Actualmente, nesta adaptação à vida na cidade, vivo num prédio pequeno. Só com dois andares e com alguns andares vazios. Moro no meio, mas nenhum dos andares de baixo está habitado, logo não tenho de me preocupar muito com móveis a arrastar, coisas a cair no chão, os passos da cadela ou os saltos altos a ecoar no andar de baixo.
O vizinho do lado é uma paz que a malta nem dá por ele. Vive sozinho e tem o máximo de cuidado para não fazer barulho - cuidado exagerado até, diria eu. Raras foram as vezes em que o ouvi meter a chave na fechadura. Até aqui tudo perfeito.
A coisa muda de figura quando passamos a falar dos vizinhos de cima. Um casal jovem, muito simpático. Mas barulhentos que é uma coisa por demais. São onze horas da noite e ouve-se os móveis a serem arrastados, gente a caminhar com convicção e a falar como se fosse meio dia e o sol brilhasse lá fora. E assim tem sido, com mais ou menos intensidade, todos os dias desta semana.
De facto, não é coisa que me tire o sono. Consigo adormecer perfeitamente com estes ruídos de fundo. Além disso, é sábado e não tenho pressa para ir para a cama.
O que, efectivamente, me faz comichão é a falta de respeito. A falta de cuidado.
Mas não me posso queixar. Se em cinco possíveis vizinhos, só um deles é que incomoda um bocado é porque não estou assim tão mal...