Não sei se sabem ou se já se aperceberam ao longo destes anos em que vos escrevo, mas sou uma apaixonada por História. Desde que me começaram a falar, ainda na escola primária, sobre a nossa História de Portugal, de uma forma muito simples, adequada àquelas idades. Recordo-me de ouvir o meu avô, senhor de uma cultura inesperada se pensarmos que apenas fez a 4ª classe numa aldeia perdida no meio do monte, onde para ir à escola tinha de caminhar imenso e sem sapatos por terreno pouco amigo de pés descalços.
É verdade, as memórias mais antigas que tenho e que me remete para a minha paixão sobre o tema, são as conversas do meu avô, quando me falava dos Reis de Portugal, ensinando-me os seus cognomes e alguns dos seus feitos.
Sou fascinada por determinados personagens históricos e espero viver no dia em que inventem uma máquina do tempo. Qual espaço, qual quê! Pagaria fortunas (se as tivesse) para poder viajar pelo passado da Humanidade e conviver com algumas das pessoas que povoam o nosso imaginário e que tanto contribuíram para o que hoje somos.
No entanto, ao ler este testemunho, sinto que já viajei no tempo. Como é possível, em pleno século XXI, num país que já foi Portugal e que por tanto passou para se libertar do domínio colonial, viverem-se situações tão salazaristas?
Tive a sorte de ter nascido num Portugal livre de espartilhos e censuras e não me consigo imaginar num país diferente. Onde teria de me dobrar às vontades dos homens, por ser mulher. Onde a minha função seria cuidar da casa e dos filhos. Onde não eram possíveis reuniões de mais de três pessoas na rua. Onde os meios de comunicação social diziam o que lhes permitiam dizer. Onde nos diziam que livros podíamos ou não ler. E os filmes. E a música.
Este meu pouco conhecimento, destes assuntos anteriores ao meu nascimento, só foi possível através dos livros que li ou de filmes que assisti. Como seria se não me tivessem dado permissão para os ver?
Custa-me que estejam presos e condenados estes homens, acusados de Golpe de Estado porque se atreveram a querer traduzir um livro para português. Um livro, minha gente!
Todos sabemos que a ignorância sempre foi a arma dos regimes opressores para manterem os seus povos quietos e sossegados e fazerem deles o que bem entendessem. O que me espanta é esta situação acontecer num país que se auto-intitula como democrático. É isto a Democracia em Angola?
Lamento tanto que tenham aprendido tão pouco com os erros portugueses. Afinal, clamaram por liberdade - com toda a legitimidade, no meu entender - para ficarem enredados nesta teia de jogos de poder e interesses e terminarem tão subjugados como antes?