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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

#Livros - Outono Alemão, de Stig Dagerman

 

Capa do livro "Outono Alemão", de Stig Dagerman, publicado pela Antígona: uma imagem que apresenta tons sóbrios e atmosféricos, com elementos que remetem ao clima melancólico e introspectivo da obra, destacando o título e o nome do autor em destaque.

Sinopse

No rescaldo da Segunda Guerra Mundial, quando a imprensa internacional retratava os escombros germânicos como um castigo merecido, Stig Dagerman derramava uma clarividente compaixão sobre os derrotados, questionando o prisma dos vencedores e o direito de humilharem um povo espezinhado. 

Outono Alemão (1947), reportagem encomendada pelo jornal sueco Expressen, longe de pintar um quadro homogéneo, é uma vivida galeria de explorados e famintos, vítimas de uma guerra que não era sua, mas também de quem se empenhava não apenas em sobreviver, mas em capitalizar com a miséria alheia. Stig Dagerman, para quem o jornalismo era «a arte de chegar atrasado logo que possível», mergulhou nas ruínas de uma Alemanha desorientada, imersa na sua culpa e bloqueada pelas forças ocupantes, e recusou a hipocrisia de exigir dos sobreviventes uma contrição política. 

O resultado é uma obra jornalística com a perenidade da grande literatura, num registo objectivo e empático que inspiraria a imprensa vindoura. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Outono Alemão foi uma descoberta inesperada, fruto duma oferta da Antígona, na Feira do Livro de Lisboa deste ano e que me permitiu mergulhar nas reflexões do autor sobre a condição humana, a memória e as transformações sociais na Alemanha no pós-guerra. O autor sueco, Stig Dagerman, nascido em 1923, foi uma figura importante na literatura sueca e europeia do século XX, cuja obra aborda temas como a angústia, a alienação e a busca por sentido em tempos turbulentos. Tendo por base o jornalismo, a sua prosa revela um olhar atento às complexidades do Homem e às condições em que vive depois da destruição da Segunda Guerra Mundial, capaz de olhar mesmo para os vencidos e não apenas para o vencedores do conflito. 


O livro foi publicado em 1947, no período imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial. A obra reflete, de maneira sensível e introspectiva, as tensões e os sentimentos de desilusão que permeavam a sociedade alemã diante das consequências do conflito e da destruição causada pelo nazismo. Influenciado pelo modernismo e pelo movimento do expressionismo, Dagerman destaca-se pela sua escrita poética e existencialista, com um olhar atento para as angústias dos que o rodeiam. Com uma carreira curta, o autor marcou por uma produção intensa e sensível e ganhou reconhecimento pela sua profunda compreensão das emoções humanas e a sua capacidade de retratar o sofrimento e a esperança de forma comovente. A sua vida foi marcada por conflitos internos e dificuldades pessoais, o que se refletiu nas suas obras e culminou quando tirou a própria vida em 1954, aos 31 anos. 


Podes ler também a minha opinião sobre O Homem Revoltado 


Aqui encontramos uma colectânea de ensaios e textos que exploram temas como a morte, a solidão e a condição humana, passados no cenário da Alemanha marcada pelo clima de pós-guerra. A obra usa o Outono como uma metáfora para o período de transição e reflexão, onde o autor mergulha naquela atmosfera de incerteza e melancolia que permeia a sociedade da época. Através das suas observações e reflexões, Dagerman constrói uma narrativa que transcende o tempo, capturando a essência duma era perturbadora e levando-nos a mergulhar num lado deste conflito poucas vezes explorado. O grande protagonista da obra é o próprio autor e as cidades alemãs que visita e que mostram bem as consequências da guerra, bem como o preço que todos os alemães estão a pagar pela derrota naquele momento. Uma conta que implica fome, medo, solidão e a ausência de dignidade. 


"Exigia-se aos que iam atravessando este outono alemão que da sua desgraça extraíssem lições. Esquecia-se assim, porém, que a fome é um muito mau pedagogo." 


Os alemães com quem se cruza nesta reportagem são marcados pela perda e pela descrença num futuro melhor, e revelam as nuances do sofrimento humano e da busca por sentido para continuar a viver, mesmo nas pior circunstâncias. O autor também utiliza elementos simbólicos, como as paisagens desoladas e os momentos de silêncio, para aprofundar a atmosfera de introspecção e de questionamento sobre o futuro e a condição do indivíduo naquela sociedade marcada pela destruição. Talvez a maior reflexão deste livro, de forma subliminar, seja sobre as cicatrizes que o conflito deixou na alma das pessoas e na sociedade. Dagerman explora as consequências da guerra, não apenas na destruição física, mas também nas feridas emocionais e na perda de esperança dum povo. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre O Adeus às Armas 


Stig Dagerman apresenta uma escrita marcada por uma profunda sensibilidade e uma prosa lírica que revela uma atenção minuciosa aos detalhes e às emoções humanas. A sua linguagem é precisa e carregada de intensidade, conseguindo transmitir de forma comovente os conflitos internos e as angústias das pessoas com quem se cruza. Além disso, o autor possui uma habilidade única de explorar temas existenciais e filosóficos, utilizando uma narrativa que combina simplicidade e profundidade, o que confere ao seu estilo uma atmosfera introspectiva e melancólica. Estas características da sua escrita contribui para criar uma leitura envolvente e emocionalmente impactante. Este impacto é profundo e avassalador, pois o autor consegue transmitir a desolação e o isolamento de quem se viu abandonado à própria sorte, sem receber a ajuda que ansiavam e esperavam dos aliados. 


"Mas nas estações podemos encontrar gente que passou por quase tudo. As grandes estações de caminho de ferro alemãs, palcos outrora onde desfilaram os manequins da aventura, encerram entre as suas paredes cheias de cicatrizes e sob os seus telhados esburacados uma boa parte do desespero do mundo." 


Esta leitura marcou-me pela intensidade emocional e pela sensibilidade focada nos grandes perdedores da Segunda Guerra Mundial, em quem só pensamos de passagem como os nazistas monstruosos, sem parar para perceber que todo um povo, com muitos inocentes, ficou deixado à sua sorte na reconstrução difícil desta Alemanha humilhada. É incrível como um livro tão curto consegue deixar este impacto em nós e abre as mentes para outros prismas deste grande conflito, que vão para além do óbvio e do que crescemos a estudar e a ver em filmes e séries. Tudo graças à prosa de Dagerman, que é delicada e, ao mesmo tempo, poderosa, e que transmite de forma visceral as nuances do sofrimento, da esperança e do medo. Pessoalmente, foi com inquietação que fui avançando nesta leitura, com cautela e calma, porque apesar de ter pouco mais de cem páginas, são relatos tristes e angustiantes, que não combinam com uma leitura vertiginosa. 


Nos dias que correm, onde as guerras parecem estar latentes por toda a parte, este relato faz todo o sentido e pode ajudar a compreender o que verdadeiramente acontece no final dos conflitos, não com os dirigentes e decisores, mas com as pessoas comuns que acabam presas nestes momentos de tensão e incerteza. Como tal, recomendo Outono Alemão especialmente para leitores que apreciam narrativas intensas e reflexivas, que retratam momentos históricos, que são determinantes para a Europa que hoje existe. É para quem não tem medo de explorar o lado mais sombrio e filosófico da existência e que procuram uma literatura que desafie e enriqueça a sua percepção do mundo. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conhecias este livro e este autor? Se leste, o que mais chamou a tua atenção nesta leitura? Que mensagem consideras mais relevante para o contexto actual? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

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